Desde a antiguidade a morte tem
sido um tema de grande controvérsia, evidentemente, porque ela representa o
final inesperado daquilo tão estimado e conhecido como é a vida. No entanto,
nem sempre foi assim, a morte, como todo processo, foi vista de diferentes
maneiras segundo o tempo em que se efetuava. Desta maneira, a morte foi
considerada um ato público, uma festa, um segredo, até o ponto de se considerar
algo triste e doloroso. Mas, como saber reagir diante ela ? É verdadeiramente
necessário sofrer?
Quando uma pessoa morrer, o fato
resulta catastrófico para alguns e para outros é o momento perfeito para
valorizar suas vidas. E é que às vezes nos sentimos mais vivos quando soubemos
que alguém mais morreu. Mas, por quê? É nesse cenário de perda e ganho no qual
nos perguntamos: qual é a transcendência da morte de uma pessoa para o mundo?
Como se deve definir? Para responder essas perguntas estudaremos dois poemas do
celebérrimo Fernando Pessoa que nos permitirão constatar a relevância da morte
no mundo, neste caso, com os poemas Quando Vier a Primavera e O Menino de Sua
Mãe.
Certo é que quando uma pessoa
morrer, seus seres queridos ficarão chateados, mais essa chatice não acarretará
o encerramento das suas vidas e é isso o que autor constata no poema Quando
Vier a Primavera. Si você morrer, o mundo não deixará de ser mundo. Você
simplesmente representa uma gota de água no mar que é a humanidade. De fato,
nosso referente Pessoa, expressa <<Quando vier a Primavera / Se eu já
estiver morto, / As flores florirão da mesma maneira>> (Caeiro, 1925).
Nestes versos nota-se que a persona não tem medo de morrer, a morte não lhe
produz insegurança nenhuma, e é isso o que preocupa a grande maioria quando
pensarem na morte, o desconhecido, a incerteza.
Além disso, Pessoa, através do
seu autonomeado mestre Alberto Caeiro manifesta aquela visão objetiva da vida
ao expressar a inexistente repercussão da sua morte <<Sinto uma alegria
enorme / Ao pensar que minha morte não tem importância nenhuma>>
(Caeiro,1925), o qual, se olharmos nosso quotidiano, é a verdade mais universal.
Essa declaração não só constata a irrelevância da morte de uma pessoa, mas
também poderia representar uma sorte de solidariedade; imagine que o mundo se
tornar um caos cada vez que uma pessoa falecer. Eis o momento que pensamos que
o trágico é questão de perspectiva.
No caso do poema O Menino de Sua
Mãe, nota-se que a situação é muito diferente, pois a morte representa dor e
perda, mas neste caso, a morte dói aos que estão perto do falecido <<De
um lenço... Deu-lho a criada/ Velha que o trouxe ao colo>>. Neste
sentido, há mais uma diferença, pois no primeiro poema se fala da morte como um
evento futuro, <<Quando vier a Primavera/ Se eu já estiver morto>>,
mas ela ainda não tem chegado, a pessoa ainda não morreu, por contrário, no
segundo poema, a morte chegou e levou-se consigo alguém <<Jaz morto, e
apodrece,/ O menino da sua mãe>>.
Pode-se verificar esse sentimento
de perda e a nostalgia de um bem perdido ao lermos <<Filho único, a mãe
lhe dera/ Um nome e o mantivera:/ “O menino da sua mãe”>>. Pois além da
morte ele sempre vai ser o seu filho, o seu amor, o seu bem, e é essa perda a
que por vezes custa ultrapassar para uns mais do que para outros. Pode notar-se
também que a vida é um processo, para uns mais longo do que para outros, mas um
processo que vai acabar em qualquer momento. Neste sentido, considera-se a
brevidade da vida do menino e a perda que representa a sua morte: <<Tão
jovem! Que jovem era! / (Agora que idade tem?)>>. Pois achamos que os
jovens são o futuro das gerações, que tem de descobrir, experimentar, e a sua
morte além de uma perda, é uma pena.
Como se evidencia neste texto,
Pessoa permite-nos reflexionar no que diz respeito à subjetividade. Através da
análise dos seus poemas, podemos perceber o leque de perspectivas, sejam
negativas ou positivas, que se podem obter de um fato “tão trágico” como a
morte; por conseguinte, a morte pode definir-se segundo a situação na que se
encontre a pessoa, mas também se deve a como é vista nesse momento pela
sociedade, é dizer, sempre vai depender do contexto. É necessário compreender
que a morte, o morrer e o medo de morrer despertam sentimentos que não estamos
costumados a expressar, e que a morte é um processo de mudança, de
transformação, um processo pessoal e interno, que só se pode ultrapassar quando
o aceitamos como normal e quotidiano, tanto como a vida e viver. É nesse
momento em que encontramos plenitude.
Fontes :
Quando Vier a Primavera
O Menino de Sua Mãe
Jerlín Castillo - Ana Volpe
O Menino de Sua Mãe
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